Há músicas que têm o poder de nos fazer recordar, há cheiros que nos transportam para o tempo quando tudo era mais simples, há olhares que nos fazem sonhar.
Saí mais cedo, apanhei o primeiro autocarro que encontrei e fui ter ao Terreiro do Paço. Era cedo para ir para casa e demasiado tarde para combinar algo.
Olhei para o rio e decidi apanhar o barco até à outra margem. Tirei a máquina fotográfica do saco de desporto e num gesto repetido tantas vezes, olhei o mundo através dela.
Lisboa, os barcos, a azáfama diária, os turistas, eram tantas as coisas que diante de mim podiam despertar curiosidade mas, ao fundo do barco, alguém prendeu toda a minha atenção. As mãos enrugadas, os lábios finos, o cabelo grisalho e o olhar perdido num livro A sua lembrança fez-me recordar outros tempos. Tempos em que aquele olhar era-me familiar.
Pensei nos jogos de rugby na lama, nas vindimas, nos cigarros às escondidas, no bate-pé, na ida aos ninhos, nos torneios de futebol e em tantas outras coisas. Mais reconfortado voltei para casa.
Gostei de pensar em ti. Gostei de me lembrar de nós. Agora que olho para trás acho que fui feliz. Tenho pena de nunca te ter dito.
Há músicas que têm o poder de nos fazer recordar, há cheiros que nos transportam para o tempo quando tudo era mais simples, há olhares que nos fazem sonhar.
